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Foto do escritorKaline Bogard

Fanzines - A revista do fã


Voltando a falar sobre esse momento de transição dos recursos analógicos para as ferramentas digitais, resolvi trazer um pouco de como era o cenário literário amador.

Eu entrei nesse setor por volta de 1998, quando comprei uma revista que falava sobre animes e descobri que trazia o endereço de outros fãs para troca de correspondência. Na época, a Internet não era acessível para a maioria esmagadora da população, Rede Social era um conceito inexistente dentro do cenário virtual. As pessoas lançavam mão do único recurso disponível: trocavam cartas.

E assim, não apenas conheci grandes amigos que fazem parte da minha vida até os dias de hoje, mas tive o primeiro contato com os fanzines.

Fanzine”: “Fan” + “Magazine”, eram revistinhas criadas em “fundo de quintal”, por pessoas que desenhavam, escreviam e divulgavam de um jeito informal, davam vida ao desejo de criar algo sem o apoio profissional de editoras, às vezes até mesmo sem um computador. Tudo era feito à mão, da roteirização à ilustração. A divulgação acontecia através de cartas: o dinheiro ia escondidinho dentro dos envelopes e a esperada revistinha vinha via Correios.

Aqui cabe um adendo: nossa empresa postal era referência em qualidade mundial. Uma tristeza vê-la tão sucateada ao ponto em que chegou...

Mas voltando aos fanzines. Ou “Zines”, que era o apelido carinhoso usado pelo pessoal do ramo:

Através de cartas encontrei desenhistas e outros roteiristas para fazer parcerias e lançar meus próprios fanzines. Todo o processo era muito longo, envolvia escrever o texto, enviar pelos Correios e esperar até a outra pessoa receber, analisar, mudar algo e me mandar de volta. Isso poderia levar um mês ou mais!

Havia toda uma ansiedade em receber a resposta e colocar as mãos na massa. Quando o projeto ganhava forma, era outra emoção! Com o molde do fanzine em mãos o próximo passo era tirar xerox. Sim, exatamente isso: a gente ia até a papelaria tirar cópias para montar o fanzine. Editora era algo impensável. Impressora? Fora de questão. Tentem imaginar a situação de quando precisava tirar cópias de histórias mais picantes...

E o passo final: a divulgação. Sem a facilidade que temos hoje na internet e que a vinte anos atrás sequer poderíamos imaginar que um dia existiria, a opção que tínhamos era divulgar via cartas: mandar propaganda de papel em envelopes e espalhar pelo Brasil inteiro.

Tive contato com artistas incríveis, alguns acompanho até hoje, mas vários se perderam pela dificuldade que a distância impõe. Também mantenho todos os zines bem guardadinhos. A maioria está amarelada pelo tempo, porque não tem como protegê-los disso.

Revistinhas amadoras, cheias de sonhos e expectativas que guardo com muito carinho e boas recordações. Amareladinhos mesmo, amarelos como ouro.



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